Você foi aprovado.
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Percival começou a refletir
sobre as questões. Além do básico das técnicas de exploração, a
prova também tinha questões sobre geologia. Percival começou a
responder as questões em sua mente, lendo cada uma delas e
preparando o que dizer para o orientador. Enquanto isso, Mimo, que havia
pego uma prova diferente, lia nervosamente cada questão. Ele nunca
havia participado de uma exploração antes nem nunca havia estudado
nada dessa natureza. Além disso, ele não conhecia geologia. Pelo
menos, as questões eram de múltipla escolha, então, para cada
questão, ele tinha vinte e cinco por cento de chance de acerto. Percival aproximou-se do macaco
e deu-lhe a prova.- Quais as respostas para cada
item? - perguntou o macaco. Percival recitou as respostas.
O macaco assentiu e deu-lhe um placar de quarenta e seis. Percival
afastou-se e voltou ao seu lugar, ao mesmo tempo que Mimo, andando à
passos lentos, aproximou-se tremendo do outro macaco que, apesar de
adulto, era menor que ele.- Quais as respostas para cada
item? - perguntou o macaco. Mimo olhou a prova novamente e
chutou as respostas, respondendo tudo aleatoriamente. O macaco
assentiu novamente e deu um placar de trinta e quatro a Mimo, que
começou a andar de volta ao seu lugar.- Ei, moleque! - disse o macaco. Mimo congelou.- Esqueceu de me entregar a
prova - continuou o avaliador.- Ah... perdoe... - Mimo voltou
e entregou a prova ao avaliador para só então voltar ao seu lugar
na multidão. O tempo passou devagar.
Eventualmente, todos haviam respondido e entregado as provas. O
avaliador analisou os placares que ele havia dado, a partir de sua
memória.- Todos aqueles que tiraram um
placar abaixo de vinte podem voltar pra casa - ele anunciou. Grande parte dos participantes
deixou o lugar. Apenas seis ficaram. O macaco entregou a esses seis
outra prova.- Mesmo processo - ele disse.
- Apenas respondam. Isso é para checar se vocês não estão se
aproveitando da minha memória para sustentar um placar que não lhes
dei.- Por que não usar uma pena
para anotar o placar de cada um? - perguntou uma garça, que havia
ficado.- Estás louca? Anotar o placar
de todos aqueles ignorantes me consumiria muita tinta. A garça ficou ofendida com a
linguagem do avaliador, mas aceitou. Novamente, Percival, Mimo e os
outros quatro participantes responderam a prova. Mimo, como antes,
fazendo tudo às cegas. Nervoso e ansioso pelo fim,
Mimo foi o primeiro a declarar que havia respondido as questões,
cinco minutos após a entrega. O símio avaliador olhou Mimo com ar
de desconfiança e perguntou:- Já?- Sim, senhor - respondeu
Mimo. "Nossa, ele deve ser muito
bom...", pensou Percival, o qual ainda estava na metade. O
avaliador pegou a prova e chamou Mimo em particular, longe dos
outros, e perguntou:- Qual a resposta para cada
item? Mimo chutou as respostas
novamente. O símio assentiu, dando-lhe um placar de vinte e seis.- Você foi aprovado - ele
disse. - Só é uma pena que os seis melhores tenham sido os únicos
a conseguir um placar acima de vinte. É uma nota baixa. Mas ainda
assim melhor que a nota da grande maioria. Mimo não estava mais prestando
atenção depois de ouvir que havia sido aprovado.- Obrigado - foi a única
palavra que o pequeno havia conseguido conjurar. O símio levantou uma de suas
sobrancelhas, achando estranho que o pequeno havia ignorado o
arrogante insulto que lhe havia sido lançado. Mimo voltou para perto
dos outros cinco, sorrindo, com ar de satisfação. Percival foi logo em seguida.
Após o processo, Percival havia sido aprovado com um placar de vinte
e dois. Ele então juntou-se a Mimo. O símio dirigiu-se à dupla e
disse:- Podem entrar na masmorra. Logo
na primeira sala foi instalada luz à lamparina e tendas onde vocês
podem descansar se desejarem. Um invocador mantém quente o interior
das tendas. É importante que se afastem daqueles que ainda fazem o
teste. Percival e Mimo foram até a
entrada da masmorra, o assustador túnel de gelo que parecia não ter
fim. Mimo tremeu, sem saber se tremera de frio ou de medo.- Você primeiro - ele disse. Percival foi na frente. Mimo
olhou para trás e percebeu que o avaliador o assistia. Sem querer
parecer medroso, o pequeno macaco seguiu Percival. O corredor era retangular,
vertical, com paredes, teto e chão perfeitamente polidos, indicando
que aquilo obviamente não era trabalho da natureza. Quanto mais a
dupla se enfiava pelo corredor, mais frio ficava. Luz de lamparinas
podia ser vista ao fim do corredor após alguns minutos de caminhada.
Eles chegaram à um grande salão com tendas erguidas, um enorme
portão de pedra na parede oposta à entrada e um outro corredor à
oeste. Um grupo de toupeiras examinava o portão enquanto outro grupo
conversava próximo ao corredor oeste, todos usando capacetes com
lanternas. As lanternas não eram alimentadas com pilhas, mas com uma
força sobrenatural canalizada para pequenas pedras circulares dentro
das lanternas. Essa força era canalizada pelo invocador. Percival e Mimo andaram em
direção às tendas bem à tempo de ver uma toupeira de jaleco sair
de uma delas. Ela olhou os dois e sorriu.- São exploradores? - ela
perguntou.- Sim, somos - respondeu
Percival.- Excelente! - a toupeira bateu
palmas duas vezes, animada com a vinda da dupla. - Finalmente
poderemos continuar com a exploração! - ela então olhou ao redor.
- Querem que eu explique a função de cada tenda?- Claro.- Sigam-me. A toupeira andou com a dupla,
explicando a função das tendas. Uma delas era uma tenda de repouso,
para os exploradores feridos. A outra era a tenda de reunião, onde
os exploradores deveriam ir ao início e ao fim de cada expediente
para receber instruções e comer. A última tenda era um depósito
coletivo de equipamentos. Os outros exploradores chegavam
aos poucos. A toupeira chamou os exploradores quando os seis estavam
lá.- Suponho que vocês não se
conhecem ainda - ela disse. - Queiram se apresentar. Percival foi o primeiro:- Sou Percival. Tenho vinte e um
anos. Percival era um coelho alto de
pelo branco e olhos vermelhos. Usava uma camisa vermelha e uma calça
azul bem longa. Carregava consigo uma mochila.- Mimo, oito anos. Mimo era um macaco baixo, pelo
marrom, olhos pretos, munido de uma longa cauda. Usava apenas um
calção vermelho, visto que sua gordura o mantinha quente. Estava
acima do peso.- Sérica, dezenove anos. Sérica era uma garça, vestida
de forma singela com uma calça e uma camisa curta pouco chamativas.
Tinha um cinto feito para acomodar ferramentas e segurava uma adaga.- Bolico, dez anos. Bolico era um gato de pelo
predominantemente branco, mas com manchas pretas. Também estava
acima do peso, usava apenas uma tanga e parecia completamente
desarmado e despreparado. Seus olhos eram amarelos.- Guino, trinta anos. Guino era um touro, grande,
forte. Usava apenas um calção rasgado, carregava com uma mão uma
espada que outras espécies só poderiam empunhar com duas patas.
Seus membros superiores terminavam em mãos quase humanas, cobertas
de denso pelo. Seus olhos tinham um assustador brilho vermelho.- Mático, vinte e cinco anos. Mático era um cão, esguio e
alto como Percival. Usava óculos e carregava consigo uma mochila
aberta, cheia de livros grossos e pesados. Julgando pela sua roupa,
uma túnica marrom amarrada na cintura com uma corda púrpura, ele
era um invocador.- Agora que todos se conhecem,
dirijam-se à tenda de reunião para comer e ficar inteirados do
trabalho de vocês aqui - disse a toupeira. O sexteto foi até a tenda de
reunião. A tenda era enorme, o bastante para caber uma mesa e doze
cadeiras. Havia um mapa estendido no fundo da tenda, sete lamparinas
e dez pratos sobre a mesa, um caldeirão no canto onde era preparada
a sopa e algumas ferramentas de mineração abandonadas ao chão. Uma
toupeira usando trajes de explorador estava sentada à cabeceira
enquanto uma outra preparava a sopa. Eles sentaram-se normalmente.- Muito bem, senhores. Que bom
que puderam passar nos testes e ser aprovados. Vejo que temos aqui um
grupo bastante heterogêneo - comentou a toupeira à cabeceira. -
Mas o que determinará a permanência ou não de vocês são
principalmente suas razões. Então eu queria saber o que os motiva a
participar da exploração, além, é claro, da recompensa.- Quero que minha mãe seja
livre - falou Mimo, imediatamente após a toupeira terminar de
falar.- Mm? Como assim?- Minha mãe foi presa pela
prefeitura. Ela é inocente, contudo, e espero que eu possa pagar a
fiança dela com este trabalho. A toupeira sorriu para a
resposta. Com motivos tão fortes, Mimo com certeza ficaria até o
final.- Eu quero melhorar as condições
de vida da minha mãe - disse Percival. - Ela está velha demais
pra continuar plantando e colhendo vegetais todos os dias.- Eu quero aventura - falou
Sérica.- E eu quero ouro - disse
Guino. - Bem se sabe que o subsolo é cheio de metais preciosos.- Eu vim em missão - disse
Mático. - Fui inspirado a vir por causa de um sonho em que o Ar
conversava comigo. A toupeira ouviu a quase todos.
Bolico, contudo, permanecia quieto.- E você? - perguntou a
toupeira. Bolico olhou a toupeira e
suspirou.- Eu vim porque não tenho outro
lugar para ir. Meus amigos estão mortos e meus pais foram
capturados. Me interessei pelo trabalho porque era o único meio de
eu não morrer de fome. A toupeira estava impressionada
com tal resposta. Os outros olharam Bolico, que baixou a cabeça após
virar o centro das atenções.- A sopa está pronta - disse
a toupeira ao caldeirão. Ela pegou, um após o outro, os
pratos da mesa e os encheu de sopa, retornando-os logo em seguida.